Estática
Eu tenho esta ânsia dentro de mim que não consigo apaziguar. Quero que o tempo corra mas parece que eu vou ficando parada. Como é que posso querer que o tempo passe se eu própria não me mexo?
Dou por mim a fixar o tecto do meu quarto, as insónias já sem poderem ser chamadas de tal, e passo a vida assim, desperta mas adormecida. Desperta para tudo aquilo que temo, tudo aquilo que me faz duvidar, vacilar e adormecida para a coragem, para a vontade, para a garra.
Se houve algo que Londres me roubou foi sem dúvida a minha garra. Lembro-me de ser destemida, com medos sim, mas a vontade de os vencer era sempre maior. Costumava ser uma leoa selvagem, que se mandava às coisas de cabeça e pensava nas consequências depois. Agora, não dou dois passos para a direita sem pensar mil e uma vezes se deveria mesmo era dar um para a esquerda. Agora... sou como uma leoa domesticada, daquelas que vemos no zoo, olham para nós com desdém e regressam à sua sesta. Perdi muita coisa de mim que quero voltar a encontrar. Mas o tempo corre e eu fico parada.
Estática.