Não vou mentir - vai-me custar ver tudo a começar a suas vidas, seja na faculdade ou no mundo do trabalho, e eu a ficar o resto do mês em casa. Vai-me custar ter todos os meus amigos na faculdade, ocupados e atarefados, entusiasmados e a criarem novas amizades, enquanto eu vou ficar por aqui à espera do telefonema que pode muito bem mudar isto tudo (para mim).
O pior de nos comprometermos com uma coisa que só acontecerá daqui a umas duas, três semanas (e no final até pode não vir a acontecer) é o que fazer durante esse tempo. Esperar nunca fui uma das minhas virtudes - eu quero sempre tudo no momento e quando tal não acontece, o meu humor cai a pique.
Houve muitos verões em que me era difícil não querer estar antes na escola, simplesmente porque não tinha como e com quem passar o tempo. Com o passar dos anos isso mudou - fui criando amizades estáveis, fui ganhando mais liberdade para ir aqui ou acolá e os dias iam-se tornando em meses e quando dava por ele, já era meados de Setembro e a altura de regressar às aulas tinha chegado.
Mas este ano não há altura de regressar às aulas. E isso agora é que me está a dar uma comichão enorme porque se durante estes últimos dois meses e meio eu tive como passar o tempo, agora o caso vai mudar de figura. E porquê?
Porque chegou de facto a altura de regressar às aulas - para os outros. Os outros sendo os meus amigos, as pessoas que fazem destes meses que passamos em casa menos excruciantes.
Eu não quero entrar aqui em muitos detalhes sobre a possibilidade de eu ter algo para fazer no final deste mês/inicio de Outubro, porque sou daquelas pessoas que não gosta de falar antes do tempo e antes de saber das coisas com 100% de certeza. Mas hoje, quando fui visitar a minha avó, apercebi-me em conversa com ela de que, realmente, estas próximas semanas vão ser bem duras para mim. Porque vai estar tudo ocupado, tudo a começar uma nova etapa das suas vidas e eu aqui fico, a escrevinhar coisas a que muitos não passam cartão, a inventar histórias que nunca irão chegar ao olho do público; basicamente, a passar o tempo.
E se há coisa que me custa mais é ter de fazer passar o tempo. O que me custa mais é ter toda a gente à minha volta a fazer algo, seja o que for, e eu sem fazer nada. E não é que esteja arrependida da minha decisão - isso tão depressa acho que não vai acontecer - e também não é que não esteja feliz por todos os meus amigos - porque estou - mas apesar disso, hoje principalmente, não consegui sacudir de mim esta pequena tristeza que vai ficando cada vez maior a cada dia que passa. Porque para além de todos começarem agora na próxima semana as suas novas vidas, eu vou ter de esperar para começar a minha - e enquanto a eles já está tudo garantido, a mim ainda nada o está.
Acho que isso também me está a atormentar um bocadinho - ter de esperar pelo final do mês/inicio do próximo para saber se começo a minha vida e não ter aqueles 100% de garantia. Estou lá em cima, na corda bamba, sem rede que me apanhe caso eu me desequilibre e caia, enquanto os outros todos já atravessaram a corda e sabem, com toda a certeza, que já estão a salvo.
Há quem diga que saber esperar é uma virtude - para mim é uma tortura.