Há relações que estão destinadas a durar. Outras, em que se tem de trabalhar para as fazer durar, se for essa a vontade de ambas as partes. E depois, há relações como a nossa: relações que já duram há tanto tempo, que já nada têm para oferecer, a nenhuma das partes.
A nossa amizade está desgastada. E como tal, não é verdadeira.
Andei cega, julgando eu que era a amizade mais verdadeira que já tinha tido. Qual não é o meu espanto quando vou de encontro à realidade e esta me dá uma enorme pancada na cabeça (e no coração) mostrando-me que não o é (verdadeira).
Durante sete anos fomos amigas. Quatro desses, como irmãs, melhores amigas, como muitos lhe chamam. Para mim, não havia esse tipo de rótulos. Eras a minha pessoa e isso bastava-me para te descrever. Eras tu que eu julgava que nunca me iria virar as costas, como muitos outros fizeram.
Julguei eu que me conhecias melhor que ninguém; e eu a ti. Pensei que me irias sempre apoiar, incondicionalmente, como eu sempre te apoei a ti.
Limpei as tuas imensas lágrimas derramadas por este e aquele; pelo teu primeiro amor, pelo teu segundo, pelo teu terceiro...pelos teus problemas em casa, pelos teus problemas de auto-estima...lágrimas por tudo e por nada. E eu, estive sempre lá, nem sempre com um lenço de papel, mas sempre com um ombro amigo para te as limpar. Sempre com uma mão forte e segura para te ajudar a levantar, sempre que cais-te.
Calei-me quando não o devia ter feito. Não disse o que me ia na alma, muitas vezes, com medo da tua reacção. O medo de te perder era tanto, que calava e consentia, se isso impedisse a tua perda.
Mas sempre te disse o que pensava em relação aos teus amores e desamores; em relação aos teus problemas no geral. Mas nunca me fiz ouvir verdadeiramente.
As minhas palavras nunca chegaram verdadeiramente a ti. Talvez tenha sido culpa minha, mas sei que não arco com ela inteiramente. Tu nunca ouviste, verdadeiramente. Nunca leste por entre as entrelinhas. E se me conhecesses assim tão bem, quanto eu julgava que conhecias, tinhas sido capaz dessa proeza. De ler as letras miudinhas, que te diziam tudo o que as grandes não conseguiam dizer.
Sempre te fui verdadeira, fiel. Orgulho-me da amiga que fui para ti durante a nossa longa amizade. Mas não me orgulho da amiga que nunca fui para mim. Pûs-me sempre de parte, por ti. Deixei-me cobrir pela tua enorme sombra, apenas porque te adorava imenso.
E ainda adoro. És a única definição de "melhor amiga" que eu tenho. Para além dessa, não conheço mais nenhuma. E talvez isso esteja na hora de mudar.
Ambas sabemos que, na realidade, já mudou.
Aos poucos e talvez de propósito, ou talvez não, afastas-te de mim. Escolhes-te outra pessoa para tomar o meu lugar e eu, não te condeno por isso. Magoa-me. Parte-me o coração, não te vou mentir. Mas já fiz mais do que estava ao meu alcance para impedir que esta nossa amizade, fosse consumida por outra, agora definitivamente mais importante para ti.
Eu percebo. É essa amizade que tu precisas na tua vida agora e, provavelmente, no futuro. A nossa amizade foi boa. Teve altos e baixos, felizmente, mais altos, e não mudaria nada.
Não, aqui minto. Mudava.
Mudava o facto de ter sido mais tua amiga, do que minha. Porque fui tão tua amiga, que me esqueci de mim, muitas das vezes.
Mas estou cansada. Cansada de lutar uma luta que para ser ganha, tem de ser batalhada a dois. E tu já não estás disposta a isso. Mais uma vez, não te condeno. Fico triste, é só.
Só te peço que nunca te esqueças. Nunca te esqueças dos momentos que estes anos que pássamos juntas nos proporcionaram. Nunca te esqueças dos sorrisos que esboçámos juntas, dos que recuperámos em conjunto depois de um díluvio enorme de tristezas e desilusões; das vezes que corri para ti quando precisaste; em que larguei tudo o que estava a fazer, ou que tinha para fazer; das vezes em que te fiz rir, quando querias era chorar. Das vezes em que queimámos tachos, da semana que passámos juntas em Peniche; dos nossos momentos parvos, em que corrias a fugir de mim, enquanto eu empunhava uma sapatilha na mão, para te dar com ela. De todos os momentos de loucura, dos momentos de alegria, mas também os de tristeza. De tudo. De mim. De nós.
Podes já não querer ser um nós, mas peço-te, nunca te esqueças que já existiu um.
Um nós forte, unido, feliz, e na altura, indestrutível.
Agora existo eu e existes tu. Já não existe um nós.
Mas penso que já não havia nada a fazer. A nossa relação; a nossa amizade tinha um prazo de validade. Estava bem escondido; quase que invísivel. Mas ele estava lá. Eu só não o queria era ver. Recusava-me a aceitar que algum dia deixaria de haver um nós, para passar a haver um eu e um tu.
Mas hoje aceito. Aceito porque ... Sabes porquê?
Porque apesar de teres sido uma boa amiga, eu não o fui. Para mim mesma. Está na altura de voltar a ser minha amiga.
Tu encontras-te alguém que te compreende, melhor que eu parece, que te apoia, mais do que eu apoiei (parece-me) e como tal, não sinto remorsos ao pôr um ponto final neste capitulo da minha vida.
Sei que fiz tudo o que podia por ti e pela nossa amizade. Como se costuma dizer: "A mais não sou obrigada".
Só espero que nunca te esqueças.
Nunca te esqueças que, enquanto muitos vieram e foram, eu fui a única que permaneci sempre a teu lado.
E tu do meu.
Eu não esquecerei. Vou seguir em frente, sem te ter do meu lado, mas nunca esquecerei.
"Dei-te o melhor de mim".
Mas já não consigo mais.
![6d5999f6cb0cb51b31ecdd0eb89edf7b_large]()