Silêncio
O Silêncio é o meu pior inimigo. No Silêncio penso. No Silêncio imagino. No Silêncio crio cenas na minha cabeça, como se de um filme a minha vida se tratasse. Nele pondero. Nele choro. Nele grito, em Silêncio. Com ele desespero. Com ele afundo-me.
O Silêncio entra-me na cabeça e de lá não sai. Traz com ele imagens que só o barulho leva, traz com ele memórias que ninguém consegue levar de mim. Acima de tudo, o Silêncio desperta em mim sentimentos que quero adormecidos. Sentimentos por ti.
O Silêncio sempre foi o meu pior inimigo. Ele faz-me pensar. Pensar em mim, na minha vida, nas minhas inseguranças, nas minhas dúvidas, no meu futuro. Mas acima de tudo faz-me pensar em ti. Leva-me sempre até ti.
De certa forma, o Silêncio podia ser o meu amigo-inimigo, porque me leva até ti. Mas eu não quero que ele o faça. Estou cansada. Cansada de sofrer em silêncio, com o silêncio.
Já não oiço músicas calmas porque não consigo ouvi-las sem pensar em ti; em nós. Já não vejo comédias românticas porque não lhes acho piada. Faltas lá tu ao meu lado, a rir-te delas, e a fazer-me rir porque o teu riso era a única razão do meu quando via aqueles filmes. Dói-me o coração de cada vez que leio um livro que envolva romance. Dantes doía de excitação pois ansiava por amar daquela forma. Agora doí simplesmente porque já sei o que é amar assim.
O Silêncio faz-me escrever sobre ti. Textos sem fim...sobre ti. Sobre mim. Sobre nós. Coisas que aconteceram, coisas que não chegaram a acontecer. Todo o tipo de coisas.
O Silêncio é o meu pior inimigo porque me leva até ti. E eu tenho feito tudo para me afastar de ti, por completo. De corpo, mente, alma e coração.
O Silêncio traz-me a dor que o Barulho consegue esconder de mim.
E por isso escolho rodear-me de Barulho. Ao menos, esse consegue abafar tudo aquilo que o Silêncio me sussurra, vezes sem conta, aos ouvidos.