Quero mais
Já há muito tempo que não me divertia tanto como me diverti ontem.
Já há muito tempo que não ria tanto, com todo o corpo, como fiz ontem.
Já há muito tempo que não me sentia como senti ontem - cheia. E não foi de ter comido muito, porque ontem com a correria toda de preparar as coisas para o aniversário do cinquentão cá da casa, quase não toquei em comida alguma.
Quando eu digo cheia é cheia de alegria, de amor, de felicidade, de gratidão por ter uma família como a minha - e quando digo família não me refiro só à de sangue. Somos uma família enorme, uns de sangue e outros que como já estão connosco desde a altura das fraldas que apesar de não serem de sangue, é como se fossem.
Ontem o meu pai fez 50 anos e a malta reuniu-se toda cá em casa. Acho que foi uma noite como a que já não tinha há muito tempo...
Este último mês tem sido bastante solitário para mim. Está tudo na faculdade, tudo nas suas vidas e eu há um mês que ando por aqui, demasiado absorvida nas minhas histórias e nas minhas personagens fictícias para socializar como deve ser. Conto os dias para o dia 20 e já só faltam oito - tenho saído de casa, não me interpretem mal, não virei bicho do mato! Mas saio um dia ou outro com o P. ou com a D. e vou falando com a C. , que está fora do país e com quem eu me tenho dado mais do que com pessoas amigas que estão aqui na nossa cidade, e com a M. e os dias vão-se passando. Vou às consultas por causa das lentes de contacto (acabou este sábado o período de experimentação e hoje vou finalmente adquirir as definitivas), vou ao supermercado fazer as compras básicas para que quando os meus pais cheguem a casa não tenham de o fazer eles, vou brincando um bocado à Gata Borralheira e assim se passou um mês - solitário.
E só ontem me dei conta disto. Falei tanto e ri tanto que a minha boca ficou seca. Bebi tanta água antes de ir dormir por causa disso que passei a noite a levantar-me para ir à casa-de-banho. Mas estava a precisar tanto de uma reunião como a de ontem...com os nossos amigos e familiares, tudo a rir, a brincar, a relembrar momentos e histórias que ainda hoje nos trazem alegrias, a pôr-nos a par das vidas de cada um...Tinha tantas saudades!
Ontem fui feliz como já há algum tempo não o era. E nem o facto de ele fazer parte desta minha família disfuncional estragou a noite de ontem - pelo contrário, até ajudou. Porque dizem que o tempo cura todas as feridas, mas acho que não foi o tempo que curou esta ferida tão minha - fui eu. Aceitei finalmente que estava na altura de o largar e ontem foi como se ele fosse outra vez só mais um de nós.
Ontem senti-me uma sortuda, apesar de não terem sido os meus anos. Senti-me amada, senti que há pessoas que se preocupam comigo e com a minha vida e bem-estar. Senti-me....cheia.
Cheia de tudo o que é bom.
Quero mais.