(Não) Está frio
Ao meu redor, todos se queixam do frio. E eu, com um sorriso sabedor nos lábios, já não digo que não está frio. Aceito que o frio dos outros é diferente do meu. Do que foi o meu frio durante os últimos quatro anos.
Chega o Dezembro e a minha rua cheira a lareira. É um incómodo quando estou a vir para casa e percorro a minha rua, com o cabelo acabado de lavar, para depois o mesmo ficar a cheirar a fumo. Mas é um cheiro novo, esquecido na minha mente, agora recordado e vivido quase todos os dias.
Montam-se as árvores de Natal e os presépios. O ano passado planeava o jantar de Natal da loja, este ano vou desfrutar de um jantar de Natal com amigos. Folheamos os folhetos dos supermercados e lembramos-nos de que já ninguém brinca com nenucos. Aproveitamos os descontos da Black Friday (a primeira de cinco em que não trabalhei!) e compramos as prendas que achamos e esperamos que os outros irão gostar de receber. Os fins-de-semana têm direito a castanhas assadas, e o espírito natalício espalha-se pelas divisões da casa.
Chega o Dezembro e daqui a nada, o Janeiro. Uma nova década. 2020. Números pares, os meus favoritos.
Ao meu redor, as pessoas dizem que está frio. E eu só penso no quão bom é viver com o frio dos outros, porque se este Dezembro estivesse a viver com o meu frio, do ano passado, e do ano anterior a esse, não andava quentinha por dentro.
Dizem que está frio. E eu sorrio e penso...Está tanto calor.