Imensamente furiosa
Acho piada. Acho piada ao facto de, se eu tiver um dia menos bom e explodir, viram-se para mim e dizem: acalma-te que isso não é nada.
Ou seja, arrumam o problema e minimizam-o, só porque é meu. Só porque sou eu e não eles. Talvez isto seja culpa minha. Porque eu habituei todos os (poucos) que tenho comigo a "despejarem" em cima de mim os seus problemas. E a palavra está com aspas porque é óbvio que se uma pessoa que eu estimo está mal, eu vou querer saber porquê e tentar ajudar.
Mas quando sou eu, parece que as pessoas se esquecem que eu sou apenas como elas. Também tenho dias maus, como o de hoje em que só me apetecia arrancar cabelos (e não convém porque eu ando a deixar crescê-lo), em que só me apetecia gritar de tamanha frustração. Também tenho alturas em que preciso de alguém com quem explodir - não explodir em cima deles mas explodir, ou seja, dizer tudo o que me está a causar transtorno nesse dia mau e não ver tudo quanto digo menosprezado.
Mas se calhar a culpa é minha. Porque eu guardo muito para mim - quase tudo - e quando expludo, as pessoas não estão habituadas e não sabem como agir.
Mas por outro lado, não é isso instintivo? Quer dizer, pelo menos para mim é. Quando alguém me vem contar o seu dia e dizer que hoje aconteceu-lhe isto e que só queria era dar um tiro a alguém e que está mesmo muito chateado ou frustrado ou triste, o meu primeiro instinto é ajudar. Nunca menosprezar os problemas da pessoa, por muito mesquinhos ou estúpidos que possam parecer para mim; nunca passar a mão rapidamente pela cabeça e dizer: vá acalma-te lá que isso já passa.
Isso só me enerva ainda mais caraças.
Estou para aqui a pensar seriamente se a culpa é minha. Mas quanto mais penso, mais chego à conclusão de que a culpa é deles.
A culpa é daqueles que nunca foram nem são capazes de fazer algo mais por mim do que passar a mão pela cabeça e dizer tem calma. É deles a culpa de eu não me dar mais às pessoas. É deles a culpa de eu me fechar em copas e guardar tudo para mim.
Porque quando eu partilho, quando eu falo de forma a me fazer ouvir, é como se os meus sentimentos valessem zero.
E isso, para além de me deixar magoada, deixa-me furiosa.
Imensamente furiosa.
E sabem o pior? Sabem o que me deixa ainda mais do que imensamente furiosa?
É virarem-se para mim e dizerem: Olha que eu hoje também não estou melhor que tu. Aconteceu-me isto e isto e isto, já viste? Fogo, estou mesmo assim e assado!
Dá vontade de mandar ditos cujos para um sítio muito feio, não dá?
É nestas alturas que mais tenho saudades dele.