Histórias inventadas por mim
-Não sei o que vês em mim.
-Porquê? O que é que tu vês em ti?
Pondero na resposta; não é difícil.
-Vejo uma rapariga tagarela. De ideias fixas e bem definidas, que sabe defendê-las de unhas e dentes; que não arreda pé. Uma rapariga teimosa, por vezes irritante. Irónica, desbocada, de riso fácil, brincalhona às vezes até demais, por vezes maldosa; que gosta de provocar e mandar umas bocas. Que não sabe quando se calar e que não sabe não perdoar. Que não sabe dizer "não". Uma rapariga tímida quando se encontra com pessoas que não conhece; meia estranha e muito despassarada. Completamente maluca. Que não sabe o quê tu vês nela.
Ele sorri ligeiramente, as covas a surgirem nas suas bochechas. Ela pensou para consigo: Eu nem gosto de homens com covinhas; só no queixo.
-Vejo exactamente a rapariga que tu me acabaste de descrever; e mais! Uma rapariga sorridente, brincalhona, bem-disposta e de convicções fortes. Uma rapariga que ilumina uma sala assim que entra, que faz notar a sua presença mas de uma maneira positiva e não de forma convencida, como se se achasse a dona do mundo. Uma rapariga com quem o tempo não tem tempo; com quem estás e nem dás por ele a passar. Uma rapariga que usa uma máscara para tentar esconder as suas peculiaridades, mas que brilha pelos buracos da mesma. Uma rapariga sincera, amiga, preocupada, carinhosa (quando quer)
Eu vejo-te a ti, assim. Estou a ver mal?
Ela solta uma gargalhada e rola os olhos. Que parvo.
-Tu precisas é de óculos...ofereço-te os meus!
-Não sou eu que preciso dos teus óculos; tu é que precisas dos meus olhos.
Sem saber o que responder, nada disse. Permaneceram em silêncio e quando ela o olhou e viu aquele seu sorriso maroto nos lábios, com as malditas covinhas nas bochechas, teve uma vontade enorme de lhe dizer o quanto gostava dele. Mas a altura ainda não era a certa. Por isso, limitou-se a sorrir-lhe e a provar-lhe que estava certo em relação a ela, pelo menos numa das coisas. Espetou-lhe um murro num dos braços e ele retraiu-se de imediato, olhando para ela com cara de parvo.
-Para que foi isso?
-Eu sou carinhosa...quando quero. - Piscou-lhe o olho e caiu para trás, pousando a cabeça na areia fria, a rir qual maluca saída de um hospício, provando ao mesmo tempo a si mesma, que também ela estava certa em relação a si, pelo menos numa das coisas.