Doida
Este fim-de-semana soube-me a pouco. Tive um sábado atribulado, a trabalhar de manhã, almoçar com a avó que fez anos e a família de tarde, andar de transportes para lá e para cá porque não temos carro, carregada e deserta para chegar a casa e cair na cama. Hoje não fiz nada - li, vi séries, comi e quase não me levantei da cama.
A vontade de o fazer por vezes é muito pouca, a cada dia, cada vez mais.
Ás vezes pergunto-me porque é que sou tão teimosa, tão casmurra. Porque é que gosto de complicar o que já é complicado por si só, porque é que pareço enveredar sempre pelo caminho mais longo e difícil.
Pergunto-me porque é que não posso ser mais como eles - não ter tanta sede de tanto e ser feliz com menos. Porque é que não posso ter o mesmo passe livre que os outros - porque é que tenho de andar aqui às voltas, aos murros e pontapés ao ar, a perseguir a minha própria sombra como se fosse um cãozinho a correr atrás da sua própria cauda.
Porque é que quero voar tão alto quando há tantos que são felizes a voar baixo ou simplesmente a planar. Porque é que eu gosto de me pôr nestas situações em que passo mais dias a chorar do que a sorrir, na esperança desesperada de chegar onde quero.
Porque é que sou teimosa ao ponto de não desistir mesmo quando quero desistir. Porque é que bato com a cabeça todos os dias, magoando-me e mesmo assim, me levanto no dia seguinte só para bater com a cabeça mais um pouco.
Porquê?
Sou doida. É a única resposta que encontro. Sou completamente doida.
E nesta doidice, ainda acredito que vou conseguir. O tempo está a correr à minha frente, a olhar por cima do ombro e a deitar-me a língua de fora. E eu sorrio-lhe de forma maliciosa; doida.
Porque mesmo na incerteza, mesmo na vontade de desistir, mesmo por entre lágrimas de frustração e desespero, a doidice prevalece.
Sou doida. Mas sendo algo que não isso, não tinha chegado até aqui e sei que não chegarei onde quero - a verdade que por vezes me custa a engolir é esta.