Coração cego
Ás vezes não era preciso mais do que um olhar para saber o que estavas a pensar. Ás vezes não era precisa mais do que uma palavra para eu te amar. Ás vezes não era preciso muito mais do que um suave toque teu para me fazer sentir tudo - mil vezes mais.
Há vezes em que ainda não é preciso mais do que tudo isto para eu voltar ao início - de repente, é como se alguém pressionasse o botão "reset" e lá estou eu: de pé, à tua frente, de sorriso nos lábios, cabelo comprido ao vento a contemplar as tuas feições.
Sinto tudo como se estivesse ainda a acontecer mas sei, no fundo do meu ser, que o poder que as nossas memórias têm são grandes o suficiente para me enganarem a esse ponto.
"É de doidos", penso enquanto olho pela janela do meu apartamento e observo os londrinos a passearem-se com chapéus de chuva a cobrirem-lhes os rostos. Todo este tempo depois e ainda sou capaz de te sentir, mesmo estando tão longe de ti.
Sempre ouvi dizer: Olhos que não vêm, coração que não sente.
Dava-me jeito o meu coração ser cego - porque ele ainda só te vê a ti.