Amor eterno
Sou quem sou e como sou hoje, devido a umas quantas pessoas. Não teria conseguido ser assim se não fossem elas. As minhas bases, os meus portos de abrigo. Um deles, e talvez o maior, é a minha avó paterna. E hoje quero escrever um pouco sobre ela (e para ela, apesar de ela não ler o blog).
A minha avó é o ser mais fantástico que existe à face da terra. E eu sei que muitos de vós devem achar o mesmo das vossas (ou não). Mas eu digo isto sabendo que, no meu mundo, ela é de facto o ser mais fantástico que existe. Criou-me, e gosto de acreditar que fez de mim a pequena mulher que sou hoje. Sou e serei sempre a sua carochinha, tal como o era para o marido dela, meu avô. Vou ser sempre aquela menina a quem ela contava a história do capuchinho vermelho uma e outra vez, sem se cansar, até eu adormecer. Vou ser sempre a menina sossegada, calma, introvertida que ela viu crescer, apesar de hoje ser tudo menos isso. Vou ser sempre a primeira neta dela. Vou ser sempre como uma filha. E ela há-de ser sempre aquela avó que me contava histórias para eu adormecer, que me ensinou a fazer renda, que me ajudava com os trabalhos de casa, que me dava leite Ucal e torradas de pão bimbo para comer ao pequeno-almoço, que me levava às compras à mercearia do Sr. João, que se chateava com o neto mais velho porque ele era uma peste e era mau como as cobras para mim.
Vai ser sempre a avó que me dava batatas para eu brincar às casas com o meu primo. Enquanto eu fazia o jantar, ele estava a trabalhar na oficina, e a minha avó andava pelo terraço a regar os seus imensos vasos de flores e a estender a roupa. Vai ser sempre avó para quem eu corria quando algo não estava bem. Vai ser sempre aquela pessoa que, no dia em que tive o meu primeiro ataque de ansiedade, estava lá e cuidou de mim. Vai ser sempre a minha confidente, a minha amiga, a minha outra mãe.
A minha avó vai ser sempre a minha força, a minha inspiração. Vai ser sempre aquela mulher que venceu o cancro da mama. Duas vezes. Vai ser sempre a mulher a quem eu limpei as lágrimas de mágoa que chorou (e chora) pelo seu falecido marido. Vai ser sempre a pessoa mais especial da minha vida e que eu vou amar, mesmo depois de a minha existência cessar.
Eu acredito no amor eterno. A minha avó é o meu amor eterno. Faria qualquer coisa por ela. Mal posso esperar pela semana que vem para poder finalmente vê-la, passadas várias semanas desde a última vez que a vi, e poder abraçá-la, rir com as histórias mirabolantes dela e das vizinhas, ver filmes antigos com ela, eu sentada no sofá grande e ela na sua poltrona, as duas enroladas numa manta e a bebericar um chá.
Esta mulher, que é isto e muito mais, dá-me vida. Dá-me força, dá-me alento, dá-me amor. Dá significado à palavra ser humano, porque ela é o mais bonito ser humano que eu conheço.
A minha avó paterna é o meu amor eterno. E esse ninguém me o pode tirar.