Nem o bom tempo tem ajudado. Nem os momentos em família ou com os amigos. Ando cansada, saturada, sem vontade nenhuma de nada. Estou a chegar aquela altura do ano em que tudo acumula. O cansaço, o stress, as inseguranças, os medos, as dores...tudo. Ponho uma cara feliz e tento afastar estes sentimentos de mim, porque só eu sei o quanto me deixo consumir por eles. Mas há alturas em que ainda não consigo. Não consigo afastar-me do meu "eu" antigo e não ser pessimista ou pensar no pior. Há alturas em que falho e escolho a infelicidade. Mas é só nestes momentos. Depois lembro-me de que isto não é nada. Que há quem esteja pior. Que ainda estou viva, que tenho um tecto, bens essenciais, família, amigos e uma educação. Lembro-me de dizer em voz alta, antes de ir dormir, cinco coisas pelas quais estou grata.

E a coisa melhora. Não é nenhuma cura, mas ajuda. A felicidade não é um destino. É um caminho que todos podemos escolher percorrer. E há dias em que me sinto a desviar desse caminho. Mas há sempre algo que me puxa de volta. E por isso, e só por isso, sei que sou uma sortuda.

Pelo menos neste país, onde pessoas com talento são descartadas todos os dias.

Eu tenho perfeita consciência de que este é um assunto sobre o qual toda a gente tem uma opinião muito forte e vincada. Ou então não. 

Já à alguns dias que ando a remoer neste assunto. Fico chateada e triste e revoltada. Porque temos tanta boa gente neste país com tanto talento e não aproveitamos nada. Zero.

Damos canal às miudinhas que vão ganhar uns trocos para as Casas dos Segredos, à música pimba, em geral, a tudo o que seja rasca (ATENÇÃO, ISTO É UMA OPINIÃO PESSOAL, OPINIÃO ESSA A QUAL TENHO TODO O DIREITO DE TER E EXPRIMIR).

Há tanta coisa boa neste país. Pessoas que cantam maravilhosamente bem, que são actores fantásticos, que são músicos fantásticos, que tocam piano, que dançam, que encantam! E no entanto vai tudo para fora.

Porquê? Estão-me sempre a fazer esta pergunta. Porque é que queres ir para fora estudar e trabalhar e fazer a tua vida?

E eu pergunto: Será que tenho as mesmas oportunidades aqui? Será que me vão dar o valor que eu tenho? Se calhar se eu fosse uma maluca qualquer e me inscrevesse na Casa dos Segredos com um segredo todo maluco, recebia os meus 15 minutos de fama e até podia ser que conseguisse fazer como a Fanny, que agora está a trabalhar no programa novo da TVI que dá aos sábados à tarde.

Mas eu não quero isso para mim. 

Eu sei de um caso em particular, em que a pessoa está a fazer aquilo que ama e que está a causar uma boa impressão lá fora. O rapaz toca piano, estuda música e tem talento. Mas acham que aqui, neste país, sabem reconhecê-lo? Não! Foi preciso o rapaz ir para o Brasil para ter algum tipo de reconhecimento e ser apreciado!

É isto que eu não entendo. Temos tanto potencial. TANTO! E mandam tudo ao lixo. Ou melhor, mandam tudo lá para fora, como se eles precisassem de mais pessoas com talento. Nós é que precisamos! Nós é que precisamos de músicos com qualidade, de cantores com qualidade, de actores com qualidade, de filmes e séries e novelas com qualidade! De apresentadores, escritores, médicos, cientistas, engenheiros, sei lá eu mais o quê! Mas precisamos desta boa gente cá! Precisamos de dar valor ao que é nosso e não dares-lhe um passe só de ida para o estrangeiro.

Porque eles lá fora já têm muita coisa! Nós é que precisamos de evoluir. 

E com isto eu não estou a querer justificar a minha escolha PESSOAL em querer sair do país daqui a um ano ou dois. Estou apenas a deitar cá para fora algo que me deixa muito triste com o nosso país (mais uma). E claro que depois temos também coisas de qualidade, como peças de teatro, espectáculos, escritores e filmes, que não têm visibilidade nenhuma. Porque as pessoas não querem saber. Só querem saber quem é que foi expulso da Casa dos Segredos ou quem é que na novela X traiu quem.

Eu não tenho nada contra estes programas, atenção. Em tempos, quando tinha a idade da minha irmã, eu via as novelas todas e mais algumas e via aqueles programas "rascas" como eu agora lhes chamo. Mas as pessoas crescem e mudam e eu já estou farta, farta de ser julgada por querer sair do país. 

"Depois como é que querem que isto melhore se vão todos embora?"

Não nos obriguem a sair e nós não saímos. Mas este país não oferece condições para todos nós cá ficarmos, presos, a viver uma vida que nos faz infeliz. Eu não tenho estofo para isso. E portanto, sim, eu quero sair do país e fazer a minha vida lá fora, porque sinto que o MEU país, o qual eu acho muito bonito e com muito potencial, desperdiça oportunidades que lhe são dadas de mão beijada, para subir. Em vez de agarrar essas oportunidades, desperdiça-as e elas vão à procura de outro país que as saiba aproveitar.

Tão simples como isto. Não me venham com conversas de que não gosto do meu país ou de que só vou estar a contribuir para a desgraça deste.

Cada um cava o buraco onde mais tarde cai. Eu já cavei muitos meus e já lá cai, mas garanto-vos de que este, esta minha escolha, não será um deles. Eu posso até chegar lá fora e levar um pontapé no rabo. Pode acontecer. Mas ao menos tentei. Ao menos fui atrás daquilo que me faz feliz. Se o meu país não tem condições de me oferecer isso eu vou procurar um sítio que o faça.

E não sou menos portuguesa por isso.