Nosso
-10!
Ele sorriu-lhe.
-9!
Ela sorriu de volta.
-8!
Ele levantou-se e começou a caminhar na sua direcção, abrindo espaço por entre os aglomerados de pessoas reunidas naquela sala.
-7!
Ela levantou-se mas permaneceu no sítio onde estava, junto da mesa coberta por uma toalha branca. O seu coração batia descompassadamente, tão depressa que mesmo por cima dos gritos, das gargalhadas, do som das cornetas, ela pensava que todos o conseguiam ouvir.
-6!
Ele suava por tudo o que era sítio. Eram as mãos que ele limpava furiosamente às calças de ganga desgastadas, era a camisa branca que tinha vestida que começava a colar-se ao seu corpo bem esculpido, era a testa da qual caiam pequenas gostas de suor. Tal não se devia ao calor que fazia naquele espaço tão grande mas tão pequeno de tão preenchido que estava por corpos e mais corpos.
-5!
Estava cada vez mais perto. Ela conseguia agora ver com distinção os seus cabelos loiros, a sua cara bonita que enganava todos, dando a ilusão de que ele era mais novo do que é na realidade. Conseguiu fitar os seus olhos castanhos e conseguiu ler neles tudo o que ela estava a pensar; a sentir.
-4!
A multidão estava absorta na contagem decrescente para o novo ano, totalmente alheios a eles os dois. Tornava mais complicado para ele deslocar-se no meio de toda aquela gente aos saltos, entusiasmada, alegre, eufórica. Mas não deixaria que isso o impedisse.
-3!
Ela deu um passo em frente. E depois outro, e outro. Não foi capaz de permanecer no seu lugar junto da mesa assim que viu que ele estava quase a chegar ao pé de si. Foi automático. O seu cérebro nem teve de dar ordem aos seus pés para que estes se mexessem. Eles fizeram-no simplesmente. Caminhou num passo acelerado. Toda ela tremia como varas.
-2!
Ergueram-se os flutues de champanhe. Os casais que se encontravam na sala aproximaram-se uns dos outros. Prepararam-se as passas e as cornetas e os engenhos que iriam disparar os confetis quando o relógio marcasse a meia noite.
-1!
Fecharam o espaço que os separava. Sorriram. Ele pousou a sua mão na face morena dela. Ela enrolou os seus pequenos e finos braços à volta do pescoço dele. Um segundo que durou uma eternidade. Naquele momento, ambos desejaram poder permanecer assim para sempre, nos braços um do outro, totalmente absorvidos um pelo o outro, numa sala cheia de pessoas alegres e esperançosas, mas vazia para eles. Naquele momento só eles estavam presentes naquela sala decorada a rigor para o ano novo.
-Feliz Ano Novo!
Gritou a multidão em uníssono. Soltaram-se os confetis, ouviu-se o tilintar dos copos a chocar uns contra os outros, ouviu-se as gargalhadas incessantes das pessoas. E num canto da sala, junto a uma mesa branca, lá estavam eles.
-Que 2014 acabe como começou. Sem um eu e um tu, mas com um nós. E que assim seja nos anos que se seguirem.
Por fim, os seus lábios tocaram-se, imitando o gesto de dezenas de casais ali presentes. Mas o deles foi diferente, foi especial.
Porque era deles.